sexta-feira, 2 de abril de 2010

Silmara, a Esfinge

“Decifras-me... Ou te devoro.”
Traz na face o desafio eterno
Traz na boca um convite a altura
E nos olhos o que mais venero

Sedutora sagaz e incorrigível
Imprevisível nos dotes que traz
Perdi a paz, desde que a vi (perdi a paz)
Padeci de algo indescritível

Horas a fio rememoro cada momento
Dias sem fim a esperar
Não sei se decifro seu pensamento
Ou se a deixo me devorar

Édipo por destino, ou sorte
Não temo nenhum crime capital
Sua ausência sim, esse é o mal
Muito pior que qualquer morte

Vencerei os precipícios, mesmo com dor
– E direi a fera – Sou homem com duas pernas
A esperar por suas pernas
A esperar por seu amor

26 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Deriva

Hoje sei o que sentem esses homens do mar
Destes que se lançam rumo ao desconhecido
Que navegam por águas tempestuosas, escuras
E vivem como viviam os primeiros homens

Bravos, enfrentam o oceano magnânimo
Lutam sóis contra a mãe natureza
E em meio ao infinito, tão pequenos, seguem
Com a certeza de que Deus não os esqueceu

Pobres homens; cansados do sol, cansados do sal
Tanto frio! Tamanha solidão! E passam meses...
Os pensamentos se perdem, pouco a pouco
Os homens se afastam, tornam-se inimigos

Chega o tempo em que não se reconhecem
Sentem um vazio imensurável, descomunal
No horizonte, por vezes azul, às vezes negro
Procuram algo que lhes seja familiar

E quando já estão exaustos, exauridos na fé
Regressam em silêncio, refazendo-se
Voltam então aos seus, alegres, com sorrisos nos lábios
Jubilosos de que fizeram algo grandioso

7 de setembro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

Passos Largos

Durante toda a vida estive atrás do tempo
Ainda estou, de fato, nunca o pude alcançar
Corri o mais que pude, me superei, sofri
Mas o tempo sempre pareceu adiante, no limiar

Cruzei estradas distantes, bosques; um rio
Caminhei muito, o mais que pude, sem cessar
Por vezes deixei de comer, adoeci de tanto frio
Esqueci de rezar, me perdi. Às vezes esqueci do tempo

Imaginei que fosse simples, efêmero e delicado
Mas a cadência cruel é inconstante,
Sempre um passo a frente, um momento... (aonde?)
Estive tão perto, acreditei que estive tão perto
E quanto mais perto, mais longe o tempo pareceu estar

Tentei então estar parado
Esperei-o na circunferência da volta
Nem isso; ciclos disformes...
Ou mera ausência de curvas

Eis então que um sábio disse:
“Suas pernas são curtas, os passos pequenos
O tempo vai em passos largos.”
Preciso é, então, alargar os passos
18 de março de 2008

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Receita de um Poema

As palavras chegam até mim
Sem que eu as perceba
Brotam de alguma cepa,
De um perfume de jasmim

Queria poder viver mil noites suicidas,
Atirar-me nas alegrias da vida
Mas o corpo cansa, desmancha, acaba
Precisa do descanso da velha taba

Queria viver o mundo insano
Sem regra, sem plano...
No sereno da noite despertar a alma
- Livrar, do corpo, o trauma

Mas ainda é necessário escrever
E ainda mais necessária é esta mão
Pena que o homem só acredita no que vê
E esquece que os olhos só pregam a ilusão

O espírito desfaz-se dos despojos e vai falar com Deus
Reconhece o caminho dos céus, a verdade plena
E quando volto ao corpo e abro os olhos meus
Já está pronto, o poema


11 de agosto de 2001

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Adeus

Do túmulo não mais pode renascer o amor
Tem que brotar de planta viva
Tal qual o verde caule da oliva
E antes de ser fruto, dar linda flor

Adeus é o que posso dizer
Adeus! E nada mais...
Agora rio por estar em paz
Livre de tanto querer

Se houver paixão
Que seja platônica
Pois não há amor entre duas pessoas

Se houver perdão
Por detrás das chamas babilônicas
Como um último pedido: perdoa...


21 de fevereiro de 2007

Lira VIII

A cada passo singelo
A cada momento obscuro
Não sei se a ti zelo
Não sei se a ti juro

Só sei, que a ti venero
E de tudo que me apraz nesta vida
Ainda que não houvesse despedida
Ver-te é o que mais espero

Se a noite corre em pranto
Contigo hei de sonhar
Na esperança que um só encanto
Leve-me ao teu olhar

Se o dia amanhece lindo
Inevitável é lembrar de ti
Ao sol, sorrindo,
Refletindo a luz que um dia vi

Mas nesta noite em que o sol me falta
O pensamento voa ao encontro teu
Meu coração triste sobressalta
Pois de tão triste te perdeu


31 de janeiro de 2001

Lira XI

Promessas... promessas apenas
De que valem tuas palavras pequenas?
De que valem versos escritos?
Se, os versos, não foram vividos

Promessas, promessas; promessas...
Acreditei na tua voz serena
Acreditei na tua voz! Que pena...
Acreditei; como nas peças

E como a atriz – me enganastes
Ludibriastes, meus sentimentos sinceros
Traístes, meus sentimentos mais belos
Antes da catarse final declinastes

Deixastes-me no vazio eterno
Solo; no palco da vida
Em monólogo tímido, meu esmero
Sob a luz da ribalta perdida

E o pano negro, selado
A espreita de um lírico olhar
É ao som da sirene interpelado...
Só me resta representar


16 de maio de 2002

Lira XII

Queria estar enamorado
Talvez, assim, me parecesse bela
Preso na noite, encrostado,
Guardo o beijo que não dei a ela

Leio Castro Alves, insone
Admiro-me com a paixão
O tempo, quase em mim, consome
E o dia parece pedir perdão

As nuvens lembram um rosto envergonhado
De negras tranças a emoldurar-lhe a face
Eu bem queria estar enamorado
Servir-me da ponta de esperança que renasce

É como se me observasse, a escuridão
Zombasse de tudo que não fiz
Este brilho da noite, é solidão
Toque da prestativa meretriz

Não hei chamar de pura
Nem apreciar-lhe o jeito vil
A verdade da sombra é escura
Já não era anjo quem caiu


27 de outubro de 2002

Lost Paradise

Caminho no charco
O pensamento no céu
Os pés no lamaçal
– Oh, ninfas! –
Venham beber meu sangue
Venham saciar-me a sede

Não vejo nada
– Treva espessa –
E o barulho do vento;
E a escuridão...
Prostro-me sozinho e rezo

Trago lembranças da luz
De fisionomias felizes
D’um ar prazeroso de aspirar
E sinto dor; asfixia

Até quando estarei errante?
Onde foi que me perdi?
Oh, Obreiros do Infinito!

Tudo daria por um momento de paz
Pelo repouso ainda não merecido

O que me falta?


19 de setembro de 2007

Mar e Ana

Dona do azul do mar
Dona da lua
Leves contigo meu olhar
Que minh’alma já é tua

Doces beijos ingênuos
Perfume dos mais suaves
E tal como se fosses Vênus
Meu coração enfeitiçastes

Nunca, em um abraço,
Senti tanto carinho
Encontro de águas num laço
Teu colo, meu ninho

Perder-me em teus braços
Pura conseqüência da vida
Mas, por hora, não sei o que faço
Talvez me reste a despedida

Sinto que escoas da minha mão
Como a água livre do céu
Água que escorre do coração,
Cai dos olhos e vem borrar esse papel

Sinto que não me sentes
E com um sorriso me quer ainda
Quem dera conhecer as nascentes
Beber da água mais linda

– Ah! Ana dos olhos de mar
Ou mar dos olhos de Ana –
O Poeta de longe a sonhar...
A cantar... (Mariana)


24 de maio de 2001

O Menino e a Mulher

Chamas-me menino
Caçoas da minha mocidade
Porém já sei que o amor é divino
E que independe da idade

Chamas-me menino
E eu a trato como a flor
Que no sorriso tão precioso e fino
Emana o delicado perfume do amor

Chamas-me menino
Trazendo no olhar tanta ternura
Que lembro-me da mãe ao nino
Porém, em teus braços, sinto mais quentura

Chamas-me menino
Como se fizesses graça
Mas olhas-me como o felino
Pronto para abocanhar a caça

Chamas-me menino
E teu corpo a me pedir ventura
Ofereço-te, então, um mimo
E queimas como se fosse jura

Chamas-me menino
Ao suplicar que te devore a carne
Tua voz em tom ferino
É um convite a apaixonar-me

E quando suspiras: menino
Em momentos tão sublimes
É toda a satisfação que exprimes
Nos lábios, palavra qualquer
Chamas-me menino
Chamo-te mulher


15 de abril de 2001

Amada Amanda

Amei...!
E estou triste porque amei demais
Tu não sabes que um homem é capaz
De te amar como eu te amei

Amada Amanda
Em teus braços eu dormi
Feito como o colibri
Que vem olhar-me na varanda
Só pra ver se encontra a ti

Ah! Quem me dera se eu fosse um colibri
Ou o teu pássaro preferido
Pra cantar no teu ouvido
E morar no teu jardim

E se olhasses para mim
Em príncipe me transformaria
Teu amor eterno eu seria
E esse poema não teria fim

Mas sou Poeta triste – sonhador
Que, na vida, ainda insiste em sentir dor
Dizendo adeus:
- Adeus, oh! Meu amor
28 de outubro de 2000

Viver por Viver

Se queres morrer...(vive!)
- Vive, que esta vida é a própria morte
E se não tiveres mais que sorte
Longo será o teu viver

A vida é o meu lamento
Tenro e profundo como um lago escuro
Que transborda em sofrimento
Escondendo, ainda mais, o meu futuro

De que vale a terrena paixão?
Se a matéria é casulo da dor
Se a noite entrega-nos à escuridão
E ao medo, impera o pavor

De que vale viver por viver?
Preso a esta couraça que me mastiga
Melhor seria não nascer
Pois a lágrima da noite é inimiga

Ai daquele que busca algo na vida...
Que procura uma existência mais pura
- No raiar da aurora escondida
A noite não sabe se dura


15 de outubro de 2001

XXVI

Queria provar-te, oh! Pólen...,
Flor tão perfumada
Tão triste é a madrugada
Donde, sem ti, todos dormem

Sofro a espera do amanhã vindouro,
Do orvalho, em tuas pétalas, como cristal
Leve é teu toque, ao vento, meu doce mal
Danças aos pássaros que te desejam o ouro

O sol, a ti, presenteia mil cores
Realça tua beleza em louvores
Passa o dia a contemplar-te

Queria das estrelas fazer-te amores
- Na noite não há tão lindas flores
Sob o brilho cadente confessar-te


20 de fevereiro de 2002

I

Se a vida ainda me fizer viver
Num verso doce não lamento
Ainda há que se conter
Meu enorme sofrimento

Se a vida ainda me fizer viver
No mais escuro não tenho medo
Carrego a luz de escrever
Um verso doce num soneto

Se a vida ainda me fizer viver,
Viverei!
Mesmo que em intensa agonia

Viverei
Para escrever
Em versos doces...Poesia


9 de março de 2000